A importância de um líder com grandeza moral

Guto Ferreira
3 min readJan 20, 2021

Hoje acompanhei desde as primeiras horas do dia a posse de Joe Biden e Kamala Harris. Os rituais, a institucionalidade, o respeito pelos símbolos nacionais. Não poderia deixar de observar, como analista, a posse na democracia mais antiga no mundo. E confesso, me senti feliz e triste. Inspirado e em dúvida. Pensativo.

Somos acostumados a acreditar que o brasileiro é feito de paixões. Que somos criativos e que isso sempre nos tira dos piores momentos. Que somos sobreviventes. Mas hoje, ouvindo os discursos, sobretudo de Biden e da jovem poetisa Amanda Gorman, de 22 anos, fiquei pensando quando o brasileiro vai, como POVO, discutir a grandeza moral de seus governantes. Na busca das paixões, da sobrevivência, de se afirmar como “criativos”, estamos deixando passar uma questão cara a todos, enquanto sociedade: os valores de quem elegemos. E não estou dizendo apenas do que dizem mas sim do que fazem. Não me refiro a imagem deles mas sim dos resultados que apresentam ou não.

As questões morais são não só a base de uma sociedade, mas de uma nação também. O estudo ético destas questões morais é que vão mostrar se estamos ou não em um bom caminho. É uma análise coletiva.

Não espere que pessoas egoístas, que só pensam em si e no seu projeto pessoal se questionem sobre isso. Os egoístas são pessoas muito burras na verdade. Ignoram a sociedade mas tentam se aproveitar dela como sanguessugas quando é de seu interesse. Este tipo de pessoa não serve para muita coisa ao longo da história. São esquecidos. Simples assim. Os egoístas são muito parecidos com o descrito no poema O Analfabeto Político, de Bertold Brecht. Eles não enxergam. Não entendem que uma sociedade funcional depende das questões morais sólidas. Lembrando que moralidade tem a ver com base, com educação, com respeito ao outro, com investigação.

Quando elegemos alguém, pelo voto democrático, temos o dever de analisar sua condição moral de ocupar aquele cargo. Temos o direito de cobrá-lo e até mesmo de nos arrependermos do nosso voto. Mas não temos o direito de errar muito mais. Sabe por quê? Porque o tempo não perdoa. Não retroage. O tempo tem o poder de deixar cicatrizes enormes. É exatamente isso que estamos vivendo hoje.

Elegemos heróis. Ídolos de pés de barro. Rimos com a nossa própria desgraça. Flertamos com a ruptura institucional e toleramos. Sabem por quê? Porque “somos brasileiros e não desistimos nunca”. Que bobagem. Quando deixaremos de ser ignóbeis na escolha e na cobrança de nossos governantes? Temos medo de impeachment? De que seja um processo traumático? Não deveriam ser eles que têm de temer este processo caso não cumpram suas funções e apresentem resultados dignos do nosso voto?

Quando a régua moral é baixa (e sim, este é o caso do Brasil, queira você ou não, quando elege muitos de seus representantes, do presidente da república aos vereadores e líderes de comunidade) não se pode esperar muito. Outro dia ouvi algo interessante sobre o mandato do presidente Bolsonaro. Uma pessoa disse: Guto, talvez o Bolsonaro não seja o primeiro mandato de uma nova era. Talvez ele seja o último da antiga era. Faz sentido. Desde o segundo mandato de Lula o Brasil experimenta e aceita a podridão moral do que existe de pior na política brasileira. E estamos vendo isso no mandato Bolsonaro também. Apenas cegos não percebem que os dois são lados opostos de uma mesma moeda, porém representam moralmente a mesma coisa: atraso.

Hoje, mais uma vez, com toda a crise das últimas semanas, os EUA deram uma lição de grandeza. Biden mostrou um farol claro de para onde os EUA irão. E nós, quando daremos a nossa primeira?

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